Conclusão é de revisão de estudos da Duke University, com 4.000 pacientes
Técnica age principalmente sobre gatilho muscular e sobre a ansiedade; para acupunturista, nenhum tratamento é 100% eficaz
Uma revisão de 31 estudos,
envolvendo cerca de 4.000 pacientes com dor de cabeça crônica mostrou que o tratamento
com acupuntura traz melhores
resultados do que medicamentos na redução da intensidade e
da freqüência das crises.
Coordenado por Tong Joo
Gang, do departamento de
anestesiologia da Duke University (EUA), os pesquisadores
analisaram apenas os estudos
controlados e randomizados,
usando dados da Cochrane (organização internacional dedicada a a
atualização e comprovação de pesquisas médicas),
da Medline (base de dados da
Biblioteca Nacional de Medicina, dos EUA) e dos estudos controlados da
Scopus (base de dados da internet mais de 30 instituições de pesquisa).
Publicada na edição de dezembro do jornal "Anesthesia
& Analgesia", a revisão da Duke
University analisou 17 estudos
de pacientes com enxaqueca,
dez estudos de dor de cabeça
tensional e quatro sobre outras
formas de dor de cabeça crônica com múltiplos sintomas.
A análise mostrou que 62%
dos pacientes que se trataram
com acupuntura relataram melhora, contra 45% dos que utilizaram
medicamentos. Em média, os pacientes relataram melhora após cinco ou
seis sessões
de acupuntura.
Tratamentos combinados
Segundo Mario Peres, neurologista do hospital Albert Einstein, em São Paulo, e autor do
livro "Dor de Cabeça: o que Ela
Quer com Você" (ed. Integrare), ainda há um grande debate
sobre a acupuntura. "Já temos
conhecimento de muitos estudos positivos, mas não dá para
falar em superioridade. Em geral, o melhor são vários tratamentos combinados. A acupuntura é mais uma opção."
Para Hong Jin Pai, diretor do
Colégio Médico de Acupuntura
de São Paulo e médico do Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo, o estudo
confirma a eficácia da técnica
tradicional. "Além de atuar na
dor, ela tem outros efeitos, como diminuir a ansiedade, por
isso é mais completa do que [os
medicamentos] analgésicos.
Mas nenhum tratamento é
100% eficaz, e há um grupo de
pacientes que não responde à
acupuntura." Entre as vantagens da técnica, ele aponta os
efeitos colaterais muito menores e o fato de ela ser uma intervenção não-medicamentosa.
Isso é vantagem principalmente porque há um uso abusivo de analgésicos,
segundo Elder Machado Sarmento, responsável pelo departamento
científico de cefaléia da Academia Brasileira de Neurologia e
vice-presidente da Associação
Latino-Americana de Cefaléia.
"Além de efeitos como agredir a
mucosa gástrica, por exemplo,
o abuso de analgésicos acaba
piorando o quadro da dor."
Marcius Mattos Ribeiro Luz,
médico do setor de acupuntura
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que as
pesquisas com acupuntura só
começaram mais recentemente, por isso há menos evidências dos chamados estudos de
primeira linha (controlados,
randomizados, duplo-cego).
Para Carlos Eduardo Altieri,
neurologista do Núcleo de Tratamento da Dor do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, já
está bem comprovada a eficácia
da técnica para tratamento de
dor de cabeça crônica que tenha um componente muscular
importante, causado pela sobrecarga em determinados
grupos musculares, como nos
do pescoço ou dos ombros.
"Nesses casos, que são muito
freqüentes, usar a acupuntura
como adjuvante traz resultados
muito melhores."
Ele lembra, no entanto, que
há diferentes tipos de cefaléia, e
não é em todos que acupuntura
apresenta a mesma eficácia.
"Na enxaqueca pura, sem gatilho muscular, o paciente responde menos, ou responde mal
de fato, à acupuntura."
Nenhum comentário:
Postar um comentário